Semana passada, antes da tragédia petista das comemorações do Dia do Trabalho em São Paulo, o prefeito de João Pessoa Cícero Lucena vinha numa fase de ascensão midiática, colecionando legendas e prospectando apoios indistintamente em todos os segmentos sociais da Capital. Pisou na bola, quando vocalizou seu apoio ao PT e a Lula em 2026, caso a legenda se compusesse no seu “arco de alianças” e evitasse a postulação de Luciano Cartaxo ou Ricardo Coutinho. A direita sinalizou recuo.
Emissoras de rádios, portais de notícias e a grande rede de blogueiros cadastrados na SECOM-PMJP, quando perceberam o estrago imediatamente “passaram o pano”. Tiraram o tema da pauta. Ninguém mais comentou sobre o assunto. Esqueceram até Jackson Macêdo, ansioso por falar e mostrar serviço. A questão não é a falta de votos da legenda (PT). Mas, a “colação” de sua imagem contempla as figuras de Lula, Ricardo Coutinho, Luís Couto e Luciano Cartaxo. Onde eles estiverem, a direita, os conservadores, cristãos e bolsonaristas não se misturarão.
Conjecturando sobre o momento, os demais candidatos buscam alcançar o segundo turno. Cícero Lucena é o único que depende de uma vitória no primeiro turno. Numa eventual segunda etapa não tem com quem se compor. As circunstâncias atuais são absolutamente idênticas às de 2012, quando Cícero chegou ao segundo turno e não teve apoio de José Maranhão ou da candidata de Ricardo Coutinho. Venceu Luciano Cartaxo. É impossível Cícero receber votos dos eleitores de Ruy Carneiro, Marcelo Queiroga, e quiçá de um candidato petista: Luciano Cartaxo ou Ricardo Coutinho.
Agindo sob a premissa que a necessidade é a mãe das invenções, Cícero Lucena esqueceu que nem sempre os fins justificam os meios. No pleito de 2022, ficou patente que o governador João Azevedo anda longe de ser a maior liderança da Capital. Perdeu para Pedro Cunha Lima (71.217 votos), no segundo turno, com empenho e a máquina do município sob o comando de Cícero Lucena. As “lideranças” podem ter mudado de posição. Mas, o povo não, permanece com a mesma opinião.
Além da queda, coice. O deputado federal Ruy Carneiro, pré-candidato a prefeito que faz forte oposição a Cícero Lucena desde o seu primeiro dia de mandato, denunciou há cerca de um mês o controle do crime organizado nas áreas vulneráveis da Capital (comunidades ou favelas). Alegou que estava tendo dificuldades em circular nestes setores, dominados por facções do narcotráfico.
Entretanto, cremos que ele jamais esperava a vinculações da bandidagem com o poder público municipal. Ontem (03/05/2024), a PF iniciou uma operação para desarticular essas quadrilhas, comandada por um bandido, dentro de um presídio de segurança máxima.
Diversos mandados de busca e apreensão foram expedidos. Dentre os quais, um destinado à filha do prefeito Cícero Lucena, Secretária da Saúde do Município, e outro a EMLUR, empresa que cuida da limpeza urbana da Capital e, segundo denúncias, abriga em seus quadros supostos criminosos nomeados, ligados ao tráfico e ao controle das favelas.
Numa destas entrevistas “quebra queixo”, um dos coordenadores das investigações declarou a existência de ligações telefônicas do “Chefão” da gang – originada no presídio – para a Secretária-filha de Cícero Lucena. Isto é muito grave. Sintonizando uma das emissoras de João Pessoa – final da tarde de ontem – o locutor de plantão, receoso com as palavras, tentava concordar com a justificativa do prefeito Cícero Lucena: “a secretária atende qualquer ligação, não dá para adivinhar que era de um presídio” (?). O silêncio teria sido mais prudente. Não se sabe se o telefone da Secretária era o institucional, ou o seu privado. Mesmo assim, é difícil atender um número desconhecido por três vezes. Todo mundo hoje tem celular, e é vítima do telemarketing, que liga no mínimo vinte vezes ao dia, de números desconhecidos. Até os desocupados, só atendem números conhecidos.
Se estas investigações não forem “contidas”, todos sabem onde elas terminarão: na PM e agentes penitenciários, que por extensão atingem o governo do Estado. Uma ORCRIM só. controla uma favela, mancomunada com policiais corruptos. O roteiro é conhecido. A hora da ronda, nada de surpresas, prisão de pequenos traficantes – geralmente menores de idade – demora da PM para chegar ao local do assalto, crime, ou denúncia da “boca de fumo” na hora que está operando. O método é padrão.
A sorte começou a abandonar Cícero? A mídia irá tentar abafar. Mas, se as oposições mostrarem que estão comprometidas com a população, proporão duas CPI’s. Uma na Câmara Municipal, outra na ALPB, para ir fundo nas investigações, e defenestrar a onda de violência que começa a se instalar e criar raízes na Capital.
Por Júnior Gurgel