O cinema, em sua juventude, florescia com as limitações técnicas que, paradoxalmente, impulsionavam a criatividade dos cineastas. No entanto, uma revolução estava prestes a transformar a sétima arte para sempre.
Em 1902 com uma experiência do inglês Edward Raymond Turner, o primeiro filme a cores, feito entre 1901 e 1902 mostra, entre outras coisas, três crianças brincando com girassóis, soldados marchando e aves de estimação, entre elas uma arara. Esse filme só foi descoberto 110 anos depois. Antes disso, os filmes eram pintados a mão, um processo rudimentar e muito trabalhoso.
A década de 1930 marca, definitivamente, o início dessa transformação mágica. Em 1939, “O Mágico de Oz” e “E o Vento Levou” não apenas encantaram o público com suas narrativas envolventes, mas também deslumbraram com a vivacidade das cores. Esses filmes, pioneiros na utilização do Technicolor, inauguraram uma nova era cinematográfica. A transição do preto e branco para o colorido não foi apenas uma mudança técnica, mas uma verdadeira metamorfose artística.
A princípio, a adoção das cores foi gradual e enfrentou resistência. Muitos cineastas e espectadores viam o preto e branco como a forma mais pura e artística de expressão cinematográfica. Alfred Hitchcock, um mestre do suspense, utilizou o preto e branco em “Psicose” (1960), mesmo com a tecnologia colorida já disponível, acreditando que a ausência de cores amplificava a tensão e o medo.
Contudo, o apelo visual do colorido era irresistível. O Technicolor, com suas três tiras de filme separadas, cada uma capturando uma cor primária, resultava em imagens vibrantes e saturadas que pareciam saltar da tela. Os anos 50 e 60 testemunharam uma explosão de filmes coloridos, à medida que a tecnologia evoluía e se tornava mais acessível. A produção de filmes em cores não apenas se popularizou, mas também começou a definir o cinema de Hollywood.
A chegada do Eastmancolor, uma tecnologia mais econômica e prática desenvolvida pela Kodak, acelerou ainda mais essa transição. Filmes como “Ben-Hur” (1959) e “Cleópatra” (1963) exibiram grandiosidade épica com uma paleta de cores deslumbrante, levando o público a mundos antes inimagináveis. A cor permitia uma nova dimensão de realismo e fantasia, enriquecendo a narrativa e a experiência visual.
Além do impacto visual, a cor trouxe novas possibilidades simbólicas. O vermelho intenso em “A Noviça Rebelde” (1965) simbolizava paixão e conflito, enquanto o azul profundo de “Jornada nas Estrelas” (1966) evocava o desconhecido e a exploração. Cada tonalidade carregava significados próprios, permitindo aos cineastas uma gama inédita de ferramentas para contar suas histórias.
Por Hermano Araruna