O ex-ministro da Comunicação do governo Dilma Rousseff (PT), Thomas Traumann, em artigo publicado no site de Veja, criticou os erros cometidos por presidente Lula (PT) na campanha nacional de vacinação contra à dengue, com o titulo “O efeito mosquito – Como quase 1 milhão de casos de dengue podem afetar a popularidade de Lula”.
Confira a seguir:
O efeito mosquito – Por Thomas Traumann
Como quase 1 milhão de casos de dengue podem afetar a popularidade de Lula
Não serão os desdobramentos do conflito diplomático com o governo de Israel ou o rescaldo manifestação bolsonarista de domingo. O fato que pode afetar o rumo do governo Lula nas próximas semanas é o descontrole da epidemia de dengue. Até esta terça-feira, 27, foram registrados 920 mil casos.
Com as chuvas de março, epidemiologistas esperam que serão mais 3 milhões de casos antes da Páscoa. Os governos do Acre, Distrito Federal, Espírito Santo, Goiás, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Santa Catarina decretaram emergência. Só em Brasília são 98 mil casos confirmados.
Eleito, entre outros motivos, pela péssima gestão de Bolsonaro na saúde, o governo Lula tem a obrigação de ser mais eficiente. O começo não foi bom. Nesses primeiros dois meses, o número de casos aumentou 200% sobre o mesmo período de 2023.
Sem uma clássica campanha massiva de prevenção, o Ministério da Saúde ficou a reboque do aumento no número de casos, agravado neste ano pelo El Niño e suas temperaturas mais altas com mais chuvas. O ciclo de verão úmido é favorável para a reprodução do mosquito Aedes aegypti, transmissor do vírus da dengue, chikungunya e zika.
Desde novembro, o Ministério da Saúde sabia que viria uma tormenta. Houve uma dúzia de reuniões setoriais, não faltou dinheiro e o ministério comprou todo o estoque de 5,2 milhões de doses da vacina contra a dengue do laboratório japonês Qdenga.
O Brasil é o primeiro país a oferecer a vacina gratuita contra dengue. Como não existem mais doses disponíveis, a vacinação está limitada às crianças de 10 a 14 anos.
Mesmo com dinheiro, vários governos estaduais foram lenientes. Como mostrou o jornal O Globo, dos nove estados com maior incidência da doença, seis usaram menos de 70% dos recursos para prevenção. O do Distrito Federal, por exemplo, só usou 23% dos recursos disponíveis. Só que num país presidencialista e personalista como o Brasil, a conta sempre cai no colo do presidente.
Ao contrário de um tema como as críticas de Lula a Israel, que no geral mobiliza eleitores que já são antipetistas, a saúde é um fator que preocupa os eleitores de Lula. Uma percepção de que o governo Lula está sendo leniente tem um potencial de estrago na aprovação do governo.
A ministra da Saúde, Nísia Andrade, fez um pronunciamento em rede nacional de rádio e TV antes do Carnaval, mas isso não mudou a batalha de comunicação. Nas redes sociais, os bolsonaristas cravaram a versão de que “enquanto o capitão deu vacina para quem quis se vacinar de covid, Lula não oferece vacina suficiente para dengue”.
O ex-ministro da Saúde de Bolsonaro Marcelo Queiroga explodiu nas redes sociais ao postar que o governo Lula “bate cabeça, em uma mistura de negligência e irresponsabilidade, deixando milhões de brasileiros sem vacina”. Essa é a versão que está vencendo hoje.
Por Thomas Traumann