Em texto publicado na sexta-feira (5), na rede social X, o ex-ministro da Saúde, Dr. Marcelo Queiroga, fez duras críticas ao comportamento de parte da mídia nacional.
Confira a seguir:
A meia verdade é pior que a mentira.
Assistimos, lamentavelmente, um festival de meias verdades, o que é pior do que a mentira, em parte da mídia brasileira.
Todos lembramos o que houve durante a pandemia de COVID-19, quando o consórcio de imprensa atuava de forma uníssona para fulminar o Governo Federal. Nesse sentido, contavam com o ativismo de especialistas militantes, em grande parte cooptados por interesses escondidos de grandes corporações.
O episódio das vacinas contra COVID-19 é emblemático para ilustrar o cenário. O consórcio de imprensa, associado ao establishment, reclamava por vacinas, até sem registro na Anvisa, não importava. Agora, mesmo em um cenário epidemiológico diverso, mas não negligenciável, adota-se comportamento incoerente com o anterior.
Recentemente, a cidade de Dourados (MS), realizou vacinação em massa de sua população contra a Dengue, fruto de uma parceria entre o município e a indústria farmacêutica, em um projeto de pesquisa.
Vale lembrar que as vacinas contra a Dengue foram aprovadas pela Anvisa em março de 2023, e só após críticas reiteradas o Ministério da Saúde resolveu incorporar a vacina no SUS, mesmo assim de forma insuficiente.
A matéria de O Globo, diante da vacinação em massa realizada na cidade de Dourados, esforça-se para justificar o que não tem justificativa. Quer comparar Dourados a Botucatu (SP) e Serrana (SP) onde, também, houve vacinação em massa.
Há diferença entre as estratégias empregadas em Dourados e nas cidades do interior de São Paulo.
Enquanto em Dourados a população tem acesso a vacina, mesmo que em um projeto de pesquisa, sem que os demais brasileiros receba sequer uma dose; em Botucatu e Serrana a pesquisa ocorreu pari passu com o programa nacional de vacinação contra COVID-19, realizado mediante um plano operacionalizado dentro dos critérios do SUS.
A reportagem de O Globo também omitiu que o Ministério da Saúde ofertou todas as doses utilizadas na vacinação na cidade de Botucatu, conforme relatado na publicação original de Costa Clemens e colaboradores no período Frontiers in Public Health.
Ou seja, há uma diferença gritante entre as duas estratégias de pesquisa. Em relação a Dengue, o Ministério da Saúde somente avaliou a vacina após a submissão à Conitec pela indústria farmacêutica, o que poderia ter sido feito de ofício em face de demanda interna. Quando resolveu incorporar no SUS no final de dezembro de 2023, o fez de forma limitada. Há cerca de 10 meses as vacinas poderiam ser aplicadas no país e não temos ainda uma estratégia definida e sequer a data em que os brasileiros começarão a ser vacinados no SUS.
A alegada incapacidade da indústria em fornecer doses da vacina poderia ter sido minimizada com a aquisição antecipada das vacinas e a distribuição exclusiva no SUS, como vimos em relação a COVID-19.
Esse cenário de bate cabeça é agravado pelo fato do Brasil enfrentar uma das maiores epidemias de Dengue dos últimos anos, com o registro de mais de 1 milhão de casos em 2023.
O esforço de O Globo em querer justificar o injustificável e turvar o entendimento da opinião pública nada mais é de que uma meia verdade, o que sabemos ser pior do que a mentira.
Portanto, é bom não confundir alhos com bugalhos, pois, como publicado em O Globo, em matéria de 03 de julho de 2023, o Ministério da Saúde planejava vacinar os brasileiros contra a Dengue só a partir do final de 2024, quando houvesse uma vacina nacional.
Precisamos todos nos vacinar contra as meias verdades criadas por parte da mídia brasileira que presta um desserviço à população.
Dr. Marcelo Queiroga – Médico e ex-ministro da Saúde.
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