O analfabetismo afeta o dobro de negros do que de brancos no Brasil, percentualmente. Os dados divulgados hoje (22) pelo IBGE na Pnad (Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios) Contínua 2023 mostram a desigualdade regional. Mais de metade dos analfabetos do país está no Nordeste.
O que aconteceu
Analfabetismo cai no país, mas ainda atinge 9,3 milhões de pessoas. A taxa nacional diminuiu levemente, de 5,6%, em 2022, para 5,4%, em 2023. Ela se refere a pessoas com 15 anos ou mais que não sabem ler ou escrever um simples bilhete.
Taxa de analfabetismo entre negros é mais que o dobro da registrada entre brancos. De acordo com o IBGE, o problema afeta 7,1% dos negros (pretos e pardos) e 3,2% dos brancos.
Queda no analfabetismo entre negros é mais acelerada. Apesar de a taxa ainda ser bem mais alta, ela caiu 2 pontos percentuais desde 2016 (9,1%). Entre brancos, a queda foi de 0,6 ponto percentual.
54,7% dos analfabetos estão no Nordeste
Mais da metade dos brasileiros analfabetos (54,7%) está na região Nordeste, o que representa 5,1 milhões de pessoas. A região registrou queda na taxa em relação à pesquisa anterior (11,7%).
Veja as taxas de analfabetismo por região:
Nordeste: 11,2%
Norte: 6,4%
Centro-Oeste: 3,7%
Sudeste: 2,9%
Sul: 2,8%
Brasil: 5,4%
Queda no número de analfabetos no país. No total, o Brasil reduziu o número de analfabetos em 232 mil entre 2022 e 2023.
Analfabetismo concentrado entre os mais velhos
O analfabetismo no Brasil está diretamente associado à idade, diz o IBGE. Quanto mais velho o grupo populacional, maior a proporção de analfabetos.
A taxa é de 15,4% na população acima de 60 anos, quase três vezes a taxa média total. No recorte por raça, 22,7% dos negros nessa faixa etária não sabem ler ou escrever, contra 8,6% dos brancos.
Esses resultados indicam que as gerações mais novas estão tendo maior acesso à educação e sendo alfabetizadas ainda enquanto crianças. Por outro lado, os analfabetos continuam concentrados entre os mais velhos.
IBGE.
Só há mais mulheres analfabetas entre idosos. A taxa de analfabetismo entre os homens é de 5,7%, contra 5,2% das mulheres. Mas a tendência se inverte na faixa etária acima de 60 anos: 15,5% das mulheres não sabem ler nem escrever, contra 15,4% dos homens.
Analfabetismo entre idosos desafia cumprimento de meta
Brasil cumpriu meta de redução do analfabetismo com um ano de atraso. O PNE (Plano Nacional de Educação) previa que o país reduzisse a taxa a no máximo 6,5% até 2016, o que aconteceu no ano seguinte. A região Norte, porém cumpriu a meta só em 2022, e o Nordeste ainda está longe de atingi-la.
PNE prevê erradicar analfabetismo até o fim deste ano.
Não vamos conseguir [bater a meta] por uma razão simples: o analfabetismo está concentrado nas faixas etárias mais velhas, o que mostra que é fundamental uma política pública de ensino para jovens e adultos. Aí está um nó, e temos evoluído pouco nesta faixa etária. Dificilmente vamos atingir a erradicação proposta tão cedo.
Sergio Leite, professor titular aposentado no Departamento de Psicologia Educacional da Unicamp.
Dependemos do desejo e da disponibilidade do adulto de aprender. Campanhas não são suficientes, tem que ter uma estrutura de educação de jovens e adultos, seja formal ou informal, que atue de maneira competente. Não podemos deixar ninguém para trás, mas temos o desafio de convencer aqueles que estão exaustos por causa da jornada de trabalho, ou morando em lugares remotos, ou em múltiplas formas de vulnerabilidade, que não tiveram o desejo ou a oportunidade de aprender.
Claudia Costin, presidente do Instituto Todos Pela Educação